Organizadores:
Adriano Pedrosa; Rodrigo Moura
Autores:
Hamid Irbouh, Rebecca Wolff, Renata Bittencourt e Rodrigo Moura
Capa dura, 18,5x25,5cm, 256p, português, MASP, 2018
R$109
ISBN 978-85-310-0050-8
<em>Fragmentos linchados</em> reúne um conjunto significativo de obras da série de mesmo título do escultor estadunidense Melvin Edwards, criadas entre 1963 e 2016, compreendendo mais de cinquenta anos deste que é o trabalho central de sua prática. Os <em>Lynch Fragments</em> fazem referência direta à prática hedionda dos linchamentos, que se seguiram à abolição da escravatura nos Estados Unidos, e começaram a ser produzidos quando o artista vivia em Los Angeles, durante um momento crucial da luta pelos direitos civis naquele país. Ao denunciar a violência contra as populações afro-americanas, Edwards fazia de suas esculturas metáforas de organismos, entre corpos e máquinas, que podem ser interpretadas também como armas devido à sensação de violência e perigo que transmitem com suas formas protuberantes, contundentes e pontiagudas. Ao unir objetos de metal de origem utilitária a outros sem função definida, essas obras oferecem uma síntese única entre abstração e engajamento político, distanciando-se de uma noção ortodoxa e alienada de arte abstrata e dos limites dogmáticos do realismo social. A partir dos anos 1970, Edwards se aproximou progressivamente da África, por meio de viagens e temporadas passadas nesse continente, usando títulos que evocam línguas, lugares e histórias africanas e da diáspora, muitas vezes com sentido nostálgico ou memorial. Desde o ano 2000, o artista mantém um ateliê em Dakar, no Senegal, onde passa parte de seu tempo e produz obras que refletem a realidade cultural do seu entorno. A seleção da exposição reflete essa multiplicidade de interesses temáticos e também as variações de estrutura que a série comporta, como nos <em>Discs</em> [Discos], nos quais as composições ocupam o centro de círculos de metal e invertem a relação de figura e fundo, e nos <em>Grids</em> [Grades], em que elas são emolduradas por tramas geométricas. A mostra ocorre em paralelo à exposição <em>Histórias afro-atlânticas</em>, coorganizada com o Instituto Tomie Ohtake, que examina os fluxos e refluxos entre a África, as Américas, o Caribe e a Europa. Assim, os 38 Fragments exibidos aqui constituem uma sucessão de emblemas que pontuam momentos e referências pessoais do artista com outros mais históricos. Desde Palmares (1988), que alude ao mais conhecido dos quilombos brasileiros, obra feita no ano do centenário da abolição da escravidão mercantil no Brasil; a <em>Homage to Amílcar Cabral</em> [Homenagem a Amílcar Cabral] (2016), mencionando o teórico marxista, líder fundamental da luta contra o colonialismo na África; e </em>Siempre Gilberto de la Nuez</em> [Sempre Gilberto de la Nuez] (1994), recordando o extraordinário, ainda que pouco conhecido, pintor autodidata cubano, que tem dois de seus trabalhos incluídos em <em>Histórias afro-atlânticas</em>, e amigo pessoal de Edwards. As referências às múltiplas e diversas histórias afro-atlânticas continuam: ao povo e antigo império do Benim, local de origem da maioria dos africanos e africanas escravizados trazidos ao Brasil durante a escravidão, e a Ogum, o orixá guerreiro do ferro, que se relaciona diretamente com a escultura em metal de Edwards. Como parte fundamental do projeto, um catálogo amplia o escopo da mostra, com reproduções de diversos trabalhos, constituindo o mais importante registro disponível da série <em>Lynch Fragments</em>.